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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

algum pedaço quebrado que nos contou...

Tem fome do mundo. Acorda e já quer comer tudo, engole o mundo inteiro e o gospe pra fora, todo em pedacinhos etiquetados. Engole tanto o mundo que geralmente nem tem fome daquele açúcar doce que insistem em lhe dar pra comer. A comida do mundo é aquela coisa dura e azeda, corta seu estômago todo e não para nada dentro de si. Sobra apenas aquele vazio seco e uma certa indigestão de mundo. Ele fica ali no canto da parede suja pelos corpos, pela chuva, pela merda que escorre das casas todas, tudo junto - a chuva sempre traz tudo - engolindo e vomitando a todos. Cercado de rostos rindo e se enchendo cada vez mais daquele doce inventado. Fecha o corpo todo e fica ali feito casulo amarelo, 'dá um berro que não se quer morrer de indigestão'. Suas mãos trêmulas não alcançam nem ao menos o corpo próximo e fica ali a agonizar sozinho. Começa a tocar um som meio torto, sem jeito nem corpo, só com gritos agonizados de quem precisa dizer algo, alguma coisa além de vomitar tudo sem cor. Todos param e parecem regojizar, nos seus estômagos aquele líquido frio já descartado pelo estômago do primeiro. Aquelas luzes amarelas, soltas ao final do dia, levaram-se em grandes ondas à cidade toda e o brilho era tanto que todos cegaram. Ninguém se enxergava e finalmente ninguém se sabia, porque afinal ninguém nunca se tocou. Estavam, durante todos os dias, muito preocupados em fazer doce do que se vivia. Todos viraram pedras secas de açúcares gelados amarelos.