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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

algum pedaço quebrado que nos contou...

Tem fome do mundo. Acorda e já quer comer tudo, engole o mundo inteiro e o gospe pra fora, todo em pedacinhos etiquetados. Engole tanto o mundo que geralmente nem tem fome daquele açúcar doce que insistem em lhe dar pra comer. A comida do mundo é aquela coisa dura e azeda, corta seu estômago todo e não para nada dentro de si. Sobra apenas aquele vazio seco e uma certa indigestão de mundo. Ele fica ali no canto da parede suja pelos corpos, pela chuva, pela merda que escorre das casas todas, tudo junto - a chuva sempre traz tudo - engolindo e vomitando a todos. Cercado de rostos rindo e se enchendo cada vez mais daquele doce inventado. Fecha o corpo todo e fica ali feito casulo amarelo, 'dá um berro que não se quer morrer de indigestão'. Suas mãos trêmulas não alcançam nem ao menos o corpo próximo e fica ali a agonizar sozinho. Começa a tocar um som meio torto, sem jeito nem corpo, só com gritos agonizados de quem precisa dizer algo, alguma coisa além de vomitar tudo sem cor. Todos param e parecem regojizar, nos seus estômagos aquele líquido frio já descartado pelo estômago do primeiro. Aquelas luzes amarelas, soltas ao final do dia, levaram-se em grandes ondas à cidade toda e o brilho era tanto que todos cegaram. Ninguém se enxergava e finalmente ninguém se sabia, porque afinal ninguém nunca se tocou. Estavam, durante todos os dias, muito preocupados em fazer doce do que se vivia. Todos viraram pedras secas de açúcares gelados amarelos.

8 comentários:

Daniel Moreira Miranda disse...

li :-)

Paulo Yamawake disse...

Tem gente que come a comida do mundo, dura e azeda. Tem gente que prefere a ilusão da comida doce que lhes dão.
Mas é tão claro, comer a comida doce deve ser tão melhor! O foda mesmo deve ser quando se percebe que ela é mera invenção.

Anna Paula Stolf disse...

me identifico contigo :)

:*

Anna Paula Stolf disse...

"eu também queria a solução"

sempre achei o início da solução fosse o soluço, mas o maior problema que eu tenho percebido é concluir a solução (o soluço). pq o soluço não pára quando eu quero e não dá pra partir pro próximo problema soluçando desse jeito ;/

Tharcy disse...

oi aqui tb! ;P

Cláudia I, Vetter disse...

essa irrealidade é sedenta e incontestável em palavras que alimentam e querem parar pra não ter mais essa vida transbordando porque é aterrador o susto do tanto, e é incrível que isso se ponha num peito só.

ou dois - porque eu sinto isso;
e vejo tão magnífico...

tua estrutura me comove.

beijo.

Cláudia I, Vetter disse...

a minha vontade e dificuldade se esvaem por aqui, nesses versos e nessas metáforas que dizem do que se vive - e dói, o estomago pra digerir e a vontade de transformar é um alimento lento; e complicado.

;***

Unknown disse...

O mundo! O mundo é a comida com sabores de tantos perfumes, outras vezes sem cheiro, intrigueiro!
faz um quimo ao redor de tudo, e forma-se o cíclico.


abraços