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domingo, 2 de novembro de 2008

cidade arranha-céu

Cidade quadrada, chata, dona de um submundo onde quem não tem o que comer, cata. Nos mesmos buracos onde entope água pelos bueiros das ruas que você passa preocupado com o trânsito, dentro da sua mais nova aquisição - Puta que pariu, mas essa cidade não anda! Cidade cheia de pés, que vivem da correria, acordam todo dia sem tempo nem mais pro café - onde tem, para quem tem. Há suborno até do tempo. Tantos pés afundados no concreto, abaixo deles e diante dos olhos. Janelas de vidro se multiplicam, são espelhos e aquecem o que é frio, de ilusão. Quadrados grandiosos e transparentes que enchem as ruas de preto. Avenidas com carros amontoados, nos cantos, caindo pelos barrancos, nos mesmos onde crianças dormem no chão, onde não há colchão, nas casas empilhadas de quem em lugar de talher guarda enxada - Pra quem cata, ter o que comer já é mérito. Encontro crédito em cada esquina, onde dinheiro parece cair do céu e na verdade é para outro lado, buraco sem fundo.No final da noite, seja zona norte ou sul, empilhados sobre o chão em frente à padaria ou à beira da cama, todos terminam em frente à tv.Deslizo pelos cabos da cidade dos arranha-céus. É tanta luz que todos ficaram cegos.

10/04/2008

Um comentário:

Valter Chanes disse...

Muito forte. Seco e forte!